Nunca gostei de psicólogo. Na verdade nunca dei muito certo com nenhum deles, sejam homens ou mulheres. Raras exceções. A discussão sempre fica na hora de jogar a culpa dos problemas em alguma coisa, ou seja, no indivíduo ou na sociedade. Enfim, não ando muito bem comigo mesmo e acredito que estou precisando conversar e buscar ajuda de profissionais na área.
O engraçado é que sempre achei que esse negócio de psicólogo era para pessoas de mente fraca e falta do que fazer das pessoas ricas. Pura ignorância. Doenças psicológicas existem sim e precisam ser tratadas. No meu caso não era a esse ponto, porém a curiosidade de saber como é uma sessão me atrai muito.
Fui procurar algum bom e barato e quem sabe até público (ahahah). Queria ver se faria efeito ou não. Pensei em procurar amigos da profissão, mas achei melhor não.
Fui procurar algum bom e barato e quem sabe até público (ahahah). Queria ver se faria efeito ou não. Pensei em procurar amigos da profissão, mas achei melhor não.
Ao procurar informações sobre psicólogos na internet, a campainha aqui de casa tocou.
Ao atender a porta, havia um senhor de meia idade, poucos cabelos, com um paletó meio enrugado, marrom, engravatado, com uma camisa roxa.
Fui indagado por esse senhor sobre informações do vizinho que algum tempo havia se mudado e sem prestar muita atenção na conversa, eu folheava uma revista de capa vermelha que o entregador havia deixado no chão da garagem.
Ao responder os questionamentos, notei um sotaque diferente que me chamou atenção.
Era um sotaque gringo, talvez americano ou inglês, sei lá, e novamente a curiosidade me fez perguntar de onde era e qual região aquele simpático senhor tinha origem.
- O senhor não é daqui é? Perguntei.
Ao atender a porta, havia um senhor de meia idade, poucos cabelos, com um paletó meio enrugado, marrom, engravatado, com uma camisa roxa.
Fui indagado por esse senhor sobre informações do vizinho que algum tempo havia se mudado e sem prestar muita atenção na conversa, eu folheava uma revista de capa vermelha que o entregador havia deixado no chão da garagem.
Ao responder os questionamentos, notei um sotaque diferente que me chamou atenção.
Era um sotaque gringo, talvez americano ou inglês, sei lá, e novamente a curiosidade me fez perguntar de onde era e qual região aquele simpático senhor tinha origem.
- O senhor não é daqui é? Perguntei.
Com aquele sotaque engraçado, de um lorde inglês, ele me disse:
- Maucon.
- Maico? - eu disse.
- Maicon - retrucou de forma estranha e continuou:
- Meu nome é Maicon e sou da Filadélfia.
- Maucon.
- Maico? - eu disse.
- Maicon - retrucou de forma estranha e continuou:
- Meu nome é Maicon e sou da Filadélfia.
- Boa Kardec! - pensei alto. Nem conhece o velho e já ganha um esporro logo pela manhã. Ele era americano e eu achando que era inglês.
O tom foi meio arrogante pois acredito que parte das pessoas que ele convive nem sabem onde fica Filadélfia. E um desconhecido que acabara de conhecer saberia menos ainda.
O tom foi meio arrogante pois acredito que parte das pessoas que ele convive nem sabem onde fica Filadélfia. E um desconhecido que acabara de conhecer saberia menos ainda.
Acho que esse senhor respondeu daquela maneira pois achava que eu não saberia nada sobre a cidade muito menos o país de que estava falando e assim me deixaria sem graça não abrindo oportunidades para que a conversa fosse estendida. Ou simplesmente pelo fato de não perguntar o nome dele.
Logo, respondi no mesmo tom para não deixar barato:
Logo, respondi no mesmo tom para não deixar barato:
- Pensilvânia? Achei que o sotaque era inglês e não americano - Respondi com ar de superioridade.
Ele me olhou de um jeito diferente, assustado.
Como aquele moleque, cabeludo, de chinelo havaianas, óculos fundo de garrafa, com um short do tricolor preto e vermelho rasgado e camiseta cavada poderia saber geografia? Americana ainda por cima!
Como aquele moleque, cabeludo, de chinelo havaianas, óculos fundo de garrafa, com um short do tricolor preto e vermelho rasgado e camiseta cavada poderia saber geografia? Americana ainda por cima!
Ainda pensei em perguntar como estavam os Eagles e os Flyers, mas não quis passar vergonha no coitado devido a baixa performance de ambos os times.
- É uma cidade bonita - Restringiu-se no comentário. - Conhece?- Com o mesmo tom de voz arrogante usado anteriormente.
- É uma cidade bonita - Restringiu-se no comentário. - Conhece?- Com o mesmo tom de voz arrogante usado anteriormente.
- Ainda não. Mas um dia - Respondi, agora humildemente.
Até agora não sei o motivo, mas provavelmente já estava me analisando desde a hora que abri a porta, então foi que ele me olhou nos olhos e disse:
- Sou psicólogo! Prazer!
Caramba! O que é isso? Pensando com meus botões e tentando não demonstrar espanto. Logo hoje, que eu não estava bem, querendo uma consulta grátis de um profissional e me aparece justamente um na minha porta? Não posso perder essa chance.
Caramba! O que é isso? Pensando com meus botões e tentando não demonstrar espanto. Logo hoje, que eu não estava bem, querendo uma consulta grátis de um profissional e me aparece justamente um na minha porta? Não posso perder essa chance.
- Ah legal! Bacana. Tenho amigos que são também - Respondi ao mesmo tempo que pensei: será que ele está me analisando? O que será que está pensando?
Acho que estava entrando em paranoia com a presença do velho ali. Ainda mandei essa:
- É bom analisar as pessoas e ajudá-las?- Nem sei o motivo de perguntar isso. Acho que eu não queria que o assunto mudasse pois queria saber mais sobre.
Acho que estava entrando em paranoia com a presença do velho ali. Ainda mandei essa:
- É bom analisar as pessoas e ajudá-las?- Nem sei o motivo de perguntar isso. Acho que eu não queria que o assunto mudasse pois queria saber mais sobre.
- É bom sim. Gratificante. As vezes as pessoas nem sabem que precisam de ajuda. Você precisa? - Perguntou-me com um olhar profundo e ao mesmo tempo aterrorizante.
Eu estava com uma balinha vermelha sabor Coca-Cola na mão e logo comecei a tremer e gaguejar. Senti um calafrio horrível. Não sabia o que fazer ou falar. Peguei a balinha, ofereci ao senhor que estava ali me questionando, perguntando exatamente o que eu tinha pensado.
Isso seriam poderes sobrenaturais? Ou seria ele acostumado com a inerente necessidade humana de ser analisada e querer saber mais da própria vida? Prefiro escolher a segunda.
- O senhor deve ser bom pois ainda hoje estava pensando justamente em procurar um profissional na área - Respondi com receio.
Isso seriam poderes sobrenaturais? Ou seria ele acostumado com a inerente necessidade humana de ser analisada e querer saber mais da própria vida? Prefiro escolher a segunda.
- O senhor deve ser bom pois ainda hoje estava pensando justamente em procurar um profissional na área - Respondi com receio.
- Pegue aqui meu cartão. Basta me ligar. Você parece ser uma boa pessoa. Talvez só precise de orientação. Já vou indo - Disse ele entregando me um cartão vermelho com suas especificações.
- Ouça o que dizem! - Disse ele novamente.
Quando peguei o cartão, fiquei entusiasmado pois nunca tinha visto um cartão de apresentação com uma cor tão vibrante.
Nele estava escrito: Dr. Malcolm. Psicólogo. Simples assim. Letras brancas e fundo vermelho.
Não era Maicon e sim um nome mais americano. Malcolm. Devo ter escutado errado no inicio da conversa. Mas também com o sotaque, foi difícil compreender.
Fiquei olhando de uma lado para o outro o cartão e ao voltar minha atenção para o senhor, ele já havia saído.

Não era Maicon e sim um nome mais americano. Malcolm. Devo ter escutado errado no inicio da conversa. Mas também com o sotaque, foi difícil compreender.
Fiquei olhando de uma lado para o outro o cartão e ao voltar minha atenção para o senhor, ele já havia saído.
- Ixi, nem me despedi. Deve estar achando que não fui educado ou que tenho algum problema por ficar admirando o cartão - Pensei em voz alta de novo.
Incrível como esses encontros casuais nos fazem pensar.
Incrível como esses encontros casuais nos fazem pensar.
Talvez eu seja mesmo um cliente em potencial.
Ao chegar no portão, não consegui vê-lo. Fui sair mas esqueci que estava trancado. Pelas grades no qual ele me entregou o cartão não era possível ver a rua longe.
Voltei lá dentro, peguei a chave e abri o portão rapidamente mas não consegui ver ninguém mais. Minha casa é no meio do quarteirão, como um senhor de meia idade teria ido embora tão rápido?
Será que ele foi embora correndo? Para que? Sumiu? Que estranho. Lembrei-me do velho do aeroporto em Brasília. Mas essa é outra história.
Naquele momento tive a sensação de que já o havia visto antes em algum lugar. Mas lembrar de onde?
Ao chegar no portão, não consegui vê-lo. Fui sair mas esqueci que estava trancado. Pelas grades no qual ele me entregou o cartão não era possível ver a rua longe.
Voltei lá dentro, peguei a chave e abri o portão rapidamente mas não consegui ver ninguém mais. Minha casa é no meio do quarteirão, como um senhor de meia idade teria ido embora tão rápido?
Será que ele foi embora correndo? Para que? Sumiu? Que estranho. Lembrei-me do velho do aeroporto em Brasília. Mas essa é outra história.
Naquele momento tive a sensação de que já o havia visto antes em algum lugar. Mas lembrar de onde?
Hum, tarefa difícil. Fechei o portão, entrei em casa e olhei novamente o cartão.
Finalmente teria um psicólogo? Estou me sentindo importante agora. Acho que já estou até melhor.
Finalmente teria um psicólogo? Estou me sentindo importante agora. Acho que já estou até melhor.
- Ei. peraí..
Malcolm..... psicólogo da Filadélfia... objetos vermelhos ao redor... pessoas sumindo sem deixar vestígios.. Olhei para o cartão novamente... Hum... Parece familiar... Muito familiar..... Na hora me lembrei da frase que ele me disse: "Ouça o que dizem!"
Malcolm..... psicólogo da Filadélfia... objetos vermelhos ao redor... pessoas sumindo sem deixar vestígios.. Olhei para o cartão novamente... Hum... Parece familiar... Muito familiar..... Na hora me lembrei da frase que ele me disse: "Ouça o que dizem!"
Eita!!
- Não, pera..!!!
- Não, pera..!!!