Confesso que fui com expectativas moderadas, mas aquele tipo de expectativa que fica cutucando: “e se for genial e eu não estiver preparado?”. A resposta é: fui surpreendido e ligeiramente perturbado. E isso, pra um bom Sci-Fi, é elogio.
A premissa já é daquelas que muda totalmente sua perspectiva da vida: Mickey é um "descartável", um funcionário clonável enviado para fazer trabalhos perigosos em um planeta inóspito chamado Niflheim. Ele morre, é clonado, (impresso, palavras ditas no próprio filme) volta com as memórias intactas e repete o ciclo. Até que um dia… o Mickey 17 volta vivo de uma missão e encontra o Mickey 18 já funcionando. Duas cópias e uma baita crise existencial.
A trama, que parece coisa de Rick and Morty com crises existenciais malucas, vai muito além da confusão dos clones. O diretor usa o caos para refletir sobre o valor da vida, o papel da consciência e o quanto vale sua existência quando você é substituível até no café da manhã.
Robert Pattinson entrega um protagonista que não sabe se ri, chora ou se auto-deleta. E a vibe do filme é essa mesma: ora filosófica, ora debochada, ora tensa. O visual é bonito, mas não no sentido tradicional de “sci-fi lustroso e limpo”. Tem sujeira, tem desconforto, tem aquele climão distópico em que tudo parece estar prestes a dar errado e realmente dá tudo errado.
O elenco ajuda a segurar essa viagem espacial insana: Toni Collette como uma comandante com cara de quem já mandou meia dúzia de Mickeys pro espaço sem piscar, Mark Ruffalo no modo “patrão opressor do futuro” e Naomi Ackie trazendo um respiro emocional. De verdade, conhecia so o Robert e o Mark Ruffalo. Inclusive, fiquei com muito ódio do personagem do Mark, daqueles que dá vontade bater na cara. Se um ator te faz ficar com raiva do personagem que ele representa, devo aceitar que ele é um baita ator.
Agora, vamos ser sinceros: Mickey 17 não é pra todo mundo. Tem ritmo mais lento que certos blockbusters pipocudos e exige atenção. Mas se você curte um sci-fi mais cabeça, com questionamentos morais, existencialismo e um clone batendo boca com sua versão mais nova, vai fundo. Ah, e se você assistiu só pelo Pattinson e esperava vampiro brilhando no espaço, sinto dizer que aqui o brilho é da reflexão (e do sarcasmo cósmico).
Mickey 17 já está disponível na HBO Max.