segunda-feira, agosto 12, 2013

Terapia Vol.1

Conversa entre AKJ e seu psicólogo, Dr. Malcolm.
Primeira sessão realizada em uma terça feira qualquer.

Dr. M: Oi
AKJ:  Oi
Dr. M: Como está?
AKJ: Apreensivo
Dr. M: Não fique.
AKJ: Difícil não ficar. Nunca fui a um psicólogo antes
Dr. M: É normal. Não estou aqui para causar medo. Somente ajudar
AKJ: Hum...
Dr. M: Então. Como foi chegar aqui?
AKJ: Mais ou menos. O caminho até aqui foi bem difícil. Pensei várias vezes nesse momento.
Dr. M: Foi difícil achar?
AKJ: Não. Achar foi fácil. Difícil foi não bater nesses motoristas daqui da cidade.
Dr. M: Pq?
AKJ: Ninguém respeita nada. E vejo coisas estranhas o tempo todo no trânsito.
Dr. M: O que você vê?
AKJ: Não quero falar.
Dr. M: Pq?
AKJ: Não acho legal. Tenho medo de falar certas coisas
Dr. M: Você está aqui para se abrir comigo. Pode falar.
AKJ: É complicado. Me sinto mal toda vez que penso ou lembro dessas coisas.
Dr. M: Então me fale sr. Alan, o que você vê?
AKJ: Eu vejo motos
Dr. M: Como que é?
AKJ: Sim, eu vejo motos
Dr. M: Motos? que tipo de motos? Você gosta de motos?
AKJ: Não. Eu as odeio. Mas as motos não são as normais que tem por ai.
Dr. M: Não? como assim?
AKJ: Eu vejo motos do demônio
Dr. M: Sério? Com que frequência?
AKJ: O tempo todo!
Dr. M: Sério? E como elas são?
AKJ: Terríveis. Elas passam o tempo todo ao meu lado, soltando faiscas, fazendo barulhos aterrorizantes. Sempre tentando entrar debaixo do carro ou fazendo alguma merda no trânsito.
Dr. M: Alguma coisa que se lembre agora?
AKJ: Sim... Elas atravessam sinais, batem nos retrovisores, e deixam rastros de fogo pelo chão. Ainda posso sentir o cheiro de enxofre....
Dr. M: Hum...
AKJ: Eles não são daqui, são?
Dr. M: Provavelmente não.
AKJ: Acho que eles me perseguem. Aonde vou, estou cercado por várias motos. E seus motoristas, com olhos vermelhos esbugalhados me olhando e sussurrando algo que não entendo. Algum tipo de mantra satânico.. sei lá...
Dr. M: Mesmo?
AKJ: Mesmo
Dr. M: Aconteceu quando vinha pra cá?
AKJ: Sempre. Aonde quer que eu vá. Sempre que entro em algum tipo de automóvel e sou eu que estou dirigindo.. isso acontece.
Dr. M: Estranho mesmo.
AKJ: E o pior, acontece mais vezes quando estou sozinho. Sério. Quando estou sozinho sempre acontece.
Dr. M: Já tentou falar com algum deles? Ou então simplesmente tentar ignorá-los? São duas opções que você tem.
AKJ: Eu não consigo conversar com eles. Logo que eles começam a sussurrar o cântico e me olhar com aqueles olhos, me sinto mal e fico aterrorizado. Ao mesmo tempo sinto uma raiva terrível de todos eles... Parece que eles provocam essa raiva em mim... e sinceramente... é quase incontrolável.
Dr. M: Já pensou em fazer algo de ruim para eles?
AKJ: Não. Claro que não.
Dr. M: ?
AKJ: Tá. Talvez...
Dr. M: ?
AKJ: Poxa, é difícil não sentir raiva e não pensar em fazer alguma coisa né. Eles ficam ali me olhando e querendo se suicidar na minha frente e na frente dos outros carros.
Dr. M: E você fica com vontade de fazer algo?
AKJ: Só jogá-los no chão. Mas só um pouquinho. Para ver se aprendem a lição
Dr. M: Você sabe que pode causar uma grande confusão para você né?
AKJ: Sei sim. Já me falaram isso varias vezes.
Dr. M: Então..
AKJ: Então o que Doutor? Eles me perseguem!!!
Dr. M: Olha, esse pode ser um dos fatores que te fizeram vir aqui. Estresse. Talvez essas motos possam ser somente uma fuga do seu cérebro para expressar algo que está guardado ou expressar alguma frustração que você está sentindo nesses últimos dias. Tem muito tempo que isso acontece?
AKJ: Acontecia algumas vezes, uma ou outra vez algum maluco numa moto aparecia. Mas pra mim era somente UM maluco. Nos últimos meses, aumentaram constantemente. A cada dia que saia de casa, eles foram aparecendo mais e mais. Agora, quando saio de casa, em poucos minutos já estou cercado por vários deles. A pior parte foi quando os cânticos começaram. Foi aí que percebi que a coisa estava mais séria ...
Dr. M: Consegue ouvir alguma coisa do cântico deles? Alguma frase que consiga entender?
AKJ: Antes não. Parecia algum tipo de dialeto muito rústico e esquecido. Mas nos últimos dias sim, comecei a entender o que dizem. Algo como " Devorar a alma", " A semente do demônio é fogo", " O circulo do inferno já faz parte da terra e do mar", "Ele sabe que o tempo é curto"... ou algo bem parecido. Dá até um frio na espinha.
Dr. M: É.. suas manifestações estão bem reais né...
AKJ: Esse é seu diagnóstico doutor? Isso que to falando é sério. Não estou inventando não e muito menos manifestando essas coisas.
Dr. M: Tá bom. Vou te dar um voto de confiança. É meu trabalho. Anotei essas frases e vou pesquisar e te falo se acho algo. Fora isso está tudo ok com você?
AKJ: Não.
Dr. M: Vê mais coisas por ai além de motos demoníacas?
AKJ: Sim.
Dr. M: O que?
AKJ: Pessoas.
Dr. M: Pessoas? Gente morta ou pessoas demoníacas? Haha!
AKJ: Doutor. Eu não estaria aqui a toa. Preciso de ajuda. Não gostei da risada.
Dr. M: Desculpa, meu senso de humor está afiado hoje. Adoro meu trabalho
AKJ: Hum. (cara de bunda)
Dr. M: Mas então, que tipo de pessoas são essas?
AKJ: Pessoas. Pessoas esquisitas fazendo esquisitices que adoram lugares esquisitos.
Dr. M: Esclareça por favor
AKJ: Ah, tem pessoas que fazem coisas que não entendo. Dias atrás vi uma senhora arrancando um folheto em um poste. Nesse folheto tinha uma propaganda de uma pessoa que se diz vidente, que resolve problemas amorosos e profissionais. O que leva uma senhora arrancar esse tipo de folheto? 
Ela não estava tirando para guardar e sim estava destruindo. Ela tentava tirar com raiva, esfregando um punho em uma atitude desesperada de arrancar aquilo ali.
Pra que? Concorrência? A senhora não queria concorrência para seus negócios? Ou ela era uma pessoa que não acredita nisso? Bruxaria?  Sei lá...
Dr. M: É uma boa análise. Eu ri. Mesmo.
AKJ: É (Risos)... Mas aconteceu. E ela ainda me olhou esquisito com coisa que ia me perguntar alguma coisa. Só dei uma risadinha e saí de perto.
Dr. M:  Aonde foi isso?
AKJ: No centro da cidade. Falando de gente esquisita e lugar esquisito, não sei como tem pessoas que gostam de certos lugares.
Dr. M: ?
AKJ: Lugares fedendo vômito, mijos, mulheres suadas, fedorentas, um punhado de babacas subindo no balcão e outros orangotangos* sem camisa na pista. Todo mundo com cara de moleque achando que é doidão e se sentindo no melhor lugar do mundo. E pra piorar, local lotado de pessoas, maior calor e música insuportável (pelo menos na maioria das vezes). 
Doutor, acho que prefiro enfrentar os motoqueiros demoníacos a frequentar por vontade própria lugares assim. Tudo uma merda!!
Dr. M: Você está precisando controlar sua raiva. Vou marcar outra sessão pra você.
Mas preciso dizer, seu senso crítico está impecável. E a noção do que é bom ou ruim também.
AKJ: Obrigado Doutor. Já estou me sentindo melhor.
Dr. M: Agora a parte de achar tudo uma merda... você está ficando velho....
AKJ: Hum... 
Dr. M: Isso não é ruim...
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Momento Discovery Channel
*Orangotango= Indivíduos acéfalos ou com um mínimo de massa cinzenta que gostam de criar confusões em baladas pois se acham os doidões e utilizam-se do método de tirar a camisa e demonstrar seu próprio corpo para conquistar as fêmeas igualmente acéfalas.
São geralmente encontrados em locais povoados de pessoas de baixo escalão como festas eletrônicas, sertanejas e de gosto duvidoso.
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