Não era nada pessoal. Não odiava ninguém ali. Só que, sabe quando um grupo perde o propósito? Começa com um objetivo claro: organização da viagem, churrasco da firma, aniversário da tia Néia mas de repente, vira um depósito de correntes duvidosas, bom-dias intermináveis e discussões acaloradas sobre política. Pois é. Meu limite foi atingido quando o assunto principal passou a ser fotos de pés. Sim, pés.
Foi quando decidi: vou sair sem alarde.
O problema é que o WhatsApp, com seu espírito fofoqueiro, faz questão de avisar todo mundo. “Fulano saiu.” Assim, seco. Como se fosse um protesto. Como se eu estivesse batendo a porta na cara de 56 pessoas. Eu precisava de estratégia.
Primeira tentativa: esperar um momento caótico. Se alguém mandasse um áudio gigante ou começasse uma treta, eu sairia no meio do fogo cruzado. Mas nada acontecia. Grupo parado. Nenhuma briga, nenhum textão indignado. Só silêncio e, de vez em quando, um “kkkkk” perdido. Como diabos aquele grupo era insuportável e ao mesmo tempo pacífico?
Segunda tentativa: sair de madrugada. Três da manhã parecia um bom horário. Todo mundo dormindo, ninguém ia notar. Erro fatal.
Aparentemente, existe uma espécie de plantão 24h nesses grupos. Mal apertei “sair do grupo” e, instantaneamente, a notificação apareceu. “Kaka saiu.” Segundos depois: “Que foi, Kaka? Tá tudo bem?”
Pânico. Uma mensagem dessas é uma isca emocional! Se eu não respondesse, pareceria que algo grave aconteceu. Se respondesse, teria que inventar uma desculpa. Escolhi a pior opção: ignorei. O que aconteceu? Exatamente o que você imagina. Mais mensagens.
“Ué, gente, o Kaka saiu?”
“Alguém chama ele de volta.”
“Volta aqui, Kaka, a gente te ama! 🥺”
O grupo inteiro, que antes parecia um deserto pós apocalíptico, agora estava em chamas. O que era um simples abandono se transformou em um ato de rebeldia. Alguém me adicionou de volta. Eu senti o peso da derrota.
Fui obrigado a dar uma desculpa esfarrapada. “Foi mal, gente, bugou aqui, cliquei sem querer.” Mas agora eu estava condenado a viver ali para sempre. Meu nome era lenda. O cara que tentou sair, mas foi sugado de volta para o abismo.
Moral da história? Ninguém sai de um grupo de WhatsApp. Você pode até tentar, mas o grupo não deixa você sair dele.
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