quarta-feira, abril 09, 2025

Cade Todo Mundo ?

Pandemia! Aquele momento que fez todo mundo ficar em casa e descobrir que a nossa verdadeira natureza era passar horas rolando o feed do Instagram, experimentando receitas de pão de queijo e se perguntando o que fazer com a nossa vida social... ou melhor, a falta dela.

E então, quando finalmente as coisas começaram a melhorar, fomos surpreendidos por um fenômeno curioso: o sumiço das pessoas. Não falo só daqueles que sumiram literalmente, tipo os amigos que começaram a usar o Instagram só para postar stories de cachorro e, de repente, desapareceram. Falo de uma nova categoria: as pessoas que se transformaram em hologramas. Elas não aparecem mais ao vivo. Não! Só em videochamadas. O máximo que você consegue é um quadrado no Zoom, com uma cara que poderia ser qualquer um (ou pior: um fundo desfocado que, sinceramente, só deixa a pessoa mais misteriosa).

O mais interessante disso tudo é que, enquanto a nossa vida social foi passando de encontros casuais para chamadas rápidas no WhatsApp, essas videochamadas viraram a nova “festa”. Aquela velha tradição de reunir a galera para conversar no bar se transformou em uma sessão de conferência no Google Meet. E o que era pra ser descontraído acaba virando um evento sem emoção, com todo mundo se esforçando para sorrir com um atraso de 5 segundos enquanto tenta não deixar o microfone ligado quando alguém faz barulho de fundo. O pior é que, quando acaba a chamada, ninguém lembra se a conversa foi realmente boa, mas todos se sentem exaustos, como se tivesse sido uma reunião de trabalho. Aliás, é bem possível que tenha sido, já que o pessoal também está “sem tempo” para um papo fora do expediente.

E quem não passou por aquele rolê que nunca acontece porque sempre tem alguém que manda aquela frase mágica: "vamos marcar"? Mas, na prática, é só um eufemismo para "eu nem vou tentar, e você também vai acabar esquecendo". O evento que ia ser épico vira uma eterna promessa, e o tempo passa, e o grupo de WhatsApp parece mais um cemitério de boas intenções. Ah, e o pior de tudo: as desculpas esfarrapadas, que vão de "não deu tempo" a "tô com a agenda cheia", e você nem tem mais coragem de responder, porque, cá entre nós, já sabe o que vem.

Mas o grande mistério da pós-pandemia não está só nas desculpas esfarrapadas e nos convites não cumpridos. O verdadeiro enigma são as pessoas que, por algum motivo, começaram a se comunicar apenas com mensagens curtas e vagas, como se uma vida inteira de amizade pudesse ser resumida em um "tô na correria, irmão". E o pior? Essas respostas não vêm com explicações, não vêm com aquela sinceridade calorosa que era tão comum nos tempos áureos da amizade. Não. Agora, é uma linha seca e fria, como se tudo o que está acontecendo ao redor não fosse motivo para mais do que um "tô enrolado".

E o pior de tudo é que, quando você tenta ser o amigo proativo e chamar para algo novo, vem aquele silêncio. Nada. Você manda um “vamos marcar algo semana que vem?” e a resposta parece uma mensagem de texto enviada por um robô: "sem dúvida, vamos marcar, sim!"… até que a próxima semana chega e, adivinha? Nada. O “sem dúvida” vira o “nunca na vida”. E as pessoas continuam desaparecendo, como se os compromissos sociais tivessem sido substituídos por uma rotina invisível, uma corrida diária para nada, onde tudo é uma desculpa para não se encontrar.

E o grande final: o amigo que sumiu e, quando finalmente manda mensagem, é só para responder com aquele clássico "correria, irmão". Já era! O que antes era um "vamos fazer isso semana que vem" agora virou um enigma sem solução, um código para quem tem tempo livre só para trabalhar, mas não para viver. E o pior? Eles acham que o problema é você, porque não está mais tentando marcar nada.

E assim seguimos, rodeados por hologramas e desculpas, tentando entender como as pessoas desapareceram e, ao mesmo tempo, aceitando que talvez o rolê nunca vá acontecer. A pandemia não só mudou a forma como nos relacionamos, mas também nos fez aprender a arte de esperar... esperar pela resposta que nunca chega, pelo convite que nunca é feito e pela promessa que nunca se cumpre. E, no fim, a gente acaba se contentando com os hologramas, porque pelo menos a imagem está lá, mesmo que a conversa, no fundo, não passe de uma tela congelada.

E assim seguimos dia a dia. Firmes, mas nem tanto.
O mundo gira e a gente tenta não cair.


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