Eu só queria assistir ao filme em paz. Mas bastou chegar na fila para perceber que eu não estava sozinho nessa jornada. Logo à frente, um casal de indecisos bloqueava o progresso da humanidade. Eles já estavam ali antes de mim, olhando para o painel de ingressos como se estivessem escolhendo um imóvel para morar. “Amor, será que pegamos 3D ou normal?” “Mas e a dublagem? Será que vale a pena?” “E se esperarmos mais uma semana?” UMA SEMANA?! Eu senti a alma saindo do meu corpo.
Atrás de mim, o falador profissional. Um cara que decidiu que a fila era o momento perfeito para analisar toda a filmografia do diretor do filme que íamos assistir. Em voz alta. Para todo mundo ouvir. “Porque se você comparar esse com a obra-prima dele de 2003, vê que a construção narrativa sofre um declínio.” Eu não perguntei, amigo.
E claro, não pode faltar a família numerosa desorganizada. Sempre tem aquela galera que só decide quem vai pagar na hora do caixa. “Filho, pega minha carteira na bolsa da sua irmã!” “Cadê sua irmã?” “Foi ao banheiro.” O caixa esperando, a fila travada, e eu ali, contemplando minhas escolhas de vida.
Na reta final, eu me deparo com o pior de todos: o infiltrado descarado. Aquele ser abençoado que chega com um sorriso e solta um “meu amigo tá ali na frente, vou só juntar com ele.” NÃO, MEU AMIGO, ISSO NÃO É UM CHECKPOINT. Se todo mundo resolvesse ter um amigo na fila, voltaríamos à Idade Média.
Depois de sobreviver a tudo isso, eu chego no caixa exausto, mas vitorioso. Só que o atendente me olha e pergunta: “Vai querer combo de pipoca?” Meu cérebro trava. Eu esqueço porque estou ali. Eu viro o casal indeciso. O ciclo recomeça.
E se você acha que o inferno acabou ao entrar na sala, está enganado. Porque agora começa o verdadeiro teste de paciência: os insuportáveis dentro do cinema.
Primeiro, o cabeçudo da frente. Você escolheu o assento estrategicamente, bem no meio, visão perfeita da tela… e então ele chega. Com um crânio do tamanho de um capacete de astronauta. Você tenta se inclinar para o lado, mas ele faz o mesmo. Você tenta pro outro, ele te acompanha. É um duelo silencioso sem vencedores.
Depois, o narrador involuntário. A pessoa que já viu o filme e decide que ninguém mais terá o direito à surpresa. “Ah, essa parte é boa, olha só o que vai acontecer agora!” Meu amigo, será que dá para calar a boca e deixar a magia do cinema funcionar?
Tem também o chutador de cadeira profissional. Ele poderia simplesmente se sentar e assistir ao filme, mas não. Ele precisa expressar cada emoção com um leve (ou forte) chute na sua cadeira. E você fica naquele dilema: ignora ou vira para trás com o olhar de ódio?
E claro, o viciado no celular. A sala escura, o filme rolando, e de repente, aquele clarão como se uma estrela tivesse explodido bem ao seu lado. A pessoa não só olha o celular, como responde mensagens, navega no Instagram e às vezes ainda tira uma foto com flash para “guardar o momento”.
Ninguém sai ileso de um cinema. O verdadeiro filme de terror acontece fora da tela.
Seguimos firmes, mas nem tanto.
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