segunda-feira, abril 28, 2025

A Verdadeira Dor - Filme

A Verdadeira Dor
Direção: Jesse Eisenberg

Tem filmes que doem. Outros fazem rir. E tem os que fazem os dois ao mesmo tempo, como se o riso fosse só uma distração enquanto a dor prepara o próximo soco. A Verdadeira Dor é esse tipo de filme. E, por isso mesmo, não é pra qualquer um.

Escrito, dirigido e protagonizado por Jesse Eisenberg, com Kieran Culkin no papel do primo que todo mundo evita na ceia de Natal, o filme parece, à primeira vista, uma daquelas comédias indie com diálogos rápidos e cenários bucólicos. Mas não se engane: isso aqui é uma viagem pela memória, pelo luto e pelas rachaduras invisíveis que a família empurra pra debaixo do tapete por gerações.

A trama começa com uma jornada pela Polônia, em homenagem à avó sobrevivente do Holocausto. Dois primos, uma mala de sentimentos mal resolvidos e o peso de uma história que parece muito maior do que eles. E é mesmo. A dor aqui não é só pessoal, é histórica. E como processar tudo isso quando nem a sua própria dor você entende direito?

Kieran Culkin entrega um personagem que parece rir da vida como um escudo. Um riso nervoso, forçado, daqueles que a gente solta quando não sabe o que sentir. Já Eisenberg é o primo certinho, o que tenta controlar tudo, inclusive o caos emocional que carrega. A química entre eles é brutalmente verdadeira. A impressão é de que a câmera só ligou e deixou os dois se baterem em silêncio e sarcasmo até que algo explodisse.

E explode. Não em grandes momentos cinematográficos, mas em silêncios, em olhares, em falas jogadas como quem não quer dizer nada, mas diz tudo. Porque é assim mesmo na vida real, né? Ninguém marca data e hora pra desabar.

O que me pegou, talvez, seja essa sensação de que todos nós temos uma herança emocional que não escolhemos. Histórias que vieram antes da gente e que, mesmo sem a nossa permissão, moldam quem somos. Como seguir em frente com tanto peso atrás? Como amar alguém que compartilha sua dor, mas não sabe demonstrar afeto?

O filme não responde. E ainda bem. Porque talvez a graça esteja em justamente não saber. Em apenas caminhar, tropeçar, rir de nervoso e continuar andando. A Verdadeira Dor é isso: uma caminhada torta entre risos e memórias. Um lembrete de que às vezes a única forma de seguir é reconhecendo que a dor é real e compartilhada.

Ah, e como se não bastasse emocionar plateias mundo afora, A Verdadeira Dor também fez bonito no Oscar. O filme levou Melhor Roteiro Original, coroando a escrita afiada e sensível de Jesse Eisenberg, e garantiu a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante para Kieran Culkin, que entregou um desempenho tão visceral quanto contido, uma montanha-russa de emoções disfarçada de piadas ácidas. A Academia, dessa vez, reconheceu que o riso, quando nasce da dor, tem um valor raro. Um filme pequeno, íntimo, mas com impacto de blockbuster emocional. Acho que merece sua atenção!

Até a próxima!

Nenhum comentário: