segunda-feira, junho 30, 2025

Predador - Assassino de Assassinos

 


Se você achava que a franquia Predador já tinha feito de tudo, é porque ainda não viu Predador: Assassino de Assassinos. A nova animação lançada em 2025 chegou chutando a porta com três histórias brutais, violentas e estilizadas, todas costuradas pela mesma essência que fez da saga um ícone: caçadas mortais em cenários extremos, com monstros implacáveis e guerreiros que lutam até o último fôlego.

A animação é visualmente impressionante, com traços que lembram Akira e uma trilha sonora que honra o legado da franquia, trazendo de volta os temas clássicos com peso e tensão. Mas não se engane com o formato animado, esse é, provavelmente, o filme mais sangrento de toda a franquia. Literalmente, cabeças voam sem parar.

A primeira história se passa no ano 841 d.C., no meio de uma guerra entre clãs vikings. Em meio ao caos de espadas, gritos e escudos quebrando, surge um Predador diferente de tudo o que vimos antes, gigantesco, com músculos de fazer inveja ao Hulk e movido pela pura força bruta. Um monstro sem sutilezas, mas com sede de destruição. E o que era uma batalha entre nórdicos, se torna um massacre entre civilizações.

Depois, somos transportados para o Japão feudal de 1629, onde dois irmãos, um ninja e um samurai, travam um duelo pessoal cheio de honra, ressentimentos e lâminas afiadas. Mas quando um novo Predador aparece, mais técnico e equipado com armas de precisão, os dois precisam unir forças para sobreviver. Esse segundo alienígena é muito mais ágil e tático do que o primeiro, como se fosse uma nova “classe” da raça. Se os vikings enfrentaram um tanque de guerra, os japoneses enfrentam um assassino de elite.

A terceira história nos joga no meio da Segunda Guerra Mundial, com combates aéreos entre aviões caindo do céu e explosões por todo lado. Aqui, o Predador parece ter um código, ele só ataca aviões em combate. É um caçador que escolhe suas presas com base no caos da guerra. Diferente dos outros dois, seu visual também é único, lembrando mais um piloto alienígena do que um guerreiro tribal. E sim, ele tem uma nave. E sim, ela também é uma arma mortal que caça os aviões no meio da Guerra.

No clímax da animação, os três sobreviventes, um de cada história, acordam acorrentados dentro de uma espécie de nave dos Predadores. E, mesmo sendo de épocas completamente diferentes, são jogados juntos em uma arena. A regra? Um confronto entre si até que sobre apenas um. E aí, o vencedor encara o Predador Mor, uma espécie de super guerreiro, uma lenda viva entre os assassinos, o assassino de assassinos. Sensacional!

O resultado? Um espetáculo brutal, com confrontos épicos, coreografias sangrentas e uma explosão de violência gráfica. É o tipo de animação que não tem medo de chocar o público e faz isso com estilo. Em um tempo em que tantas franquias tentam se reinventar e falham, Predador: Assassino de Assassinos mostra que ainda é possível surpreender, até mesmo em terrenos já muito explorados. Uma bela, sangrenta e selvagem adição ao universo dos caçadores intergalácticos.

Se você gosta de sangue, honra, ficção e um bom banho de nostalgia com trilha sonora clássica, essa animação é pra você. Só não espere piedade. Porque aqui, nem os guerreiros têm tempo pra respirar. É bom demais!

Ah pronto, agora quero um Predador pra minha coleção!

Predador: Assassino de Assassinos, está disponível no Disney Plus.

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sexta-feira, junho 27, 2025

Coracao de Ferro - 3 primeiros episodios


Rever as armaduras em ação em Coração de Ferro, nos três primeiros episódios, trouxe uma onda imediata de nostalgia, lembrando aqueles tempos icônicos de Tony Stark e suas criações inovadoras. Foi bom sentir esse eco do passado. A protagonista, Riri Williams, interpretada por Dominique Thorne, se mostra carismática e engajada; ela conduz com segurança a trama e permite que a gente mergulhe na série de forma tranquila.

Até agora, seu maior rival tem sido Parker Robbins, o misterioso “Capuz”, interpretado por Anthony Ramos. Apesar de pouco conhecido pelo público geral, nos quadrinhos ele é um delinquente que, ao matar um demônio, rouba seu capuz e botas e ganha poderes como invisibilidade, levitação, teletransporte e uma forte ligação com magia negra. Em algumas histórias, ele até se conecta com entidades como Dormammu e Mephisto. Na série, o personagem aparece modesto, mas com um ar sombrio, com sinais de que ainda há muito mais a ser revelado. O ator já o descreveu como o “vilão mais legal” do MCU, o que aumenta a expectativa.

Essa dinâmica entre a tecnologia de ponta de Riri e a magia do Capuz estrutura o núcleo dramático da trama, com promessa de um embate moral, emocional e épico entre ciência e ocultismo, algo que os próprios produtores destacaram como um dos grandes pilares da série.

Entretanto, não dá para ignorar um ponto negativo importante: a inserção de comerciais com mais de um minuto, a cada cinco minutos de série, atrapalha demais a imersão. Para um serviço de streaming pago, e caro, diga-se de passagem, essa prática é frustrante. Cheguei a considerar o cancelamento da assinatura. Quando você volta empolgado para o episódio seguinte e é interrompido várias vezes, o impacto da narrativa simplesmente se perde.

No balanço geral, os episódios 1 a 3 são eficientes na construção de uma nova heroína. Riri é dona de presença e inteligência, reminiscentes de Tony Stark, mas com personalidade própria e na apresentação de um vilão intrigante, que ainda tem muito a mostrar. A ambientação em Chicago é rica, autêntica, e o charme visual das armaduras e efeitos especiais só reforça a qualidade da produção. Mas fica o alerta: para a experiência ser completa, o Disney Plus vai precisar rever essa estratégia de anúncios. Porque do jeito que está, a série brilha mas o streaming atrapalha.

Aguardaremos os próximos episódios para analisar melhor a serie. Até o momento, está Ok! Longe de ser a pior, mas longe também de ser a melhor.

Até.


quarta-feira, junho 25, 2025

Branca de Neve


Vou ser sincero, odeio filme musical. Quando a personagem começou a cantar, lá no começo do novo Branca de Neve da Disney, já torci o nariz. Pensei em desistir. Mas continuei assistindo, primeiro porque o filme é realmente bonito de se ver, e segundo porque eu estava curioso pra ver como seria a Rainha Má e, claro, os famosos anões.

E pra minha surpresa, o filme foi me conquistando aos poucos. As músicas, apesar do meu ranço inicial  não estavam ali só pra encher linguiça. Elas ajudavam a contar a história, traziam informações importantes da trama e aos poucos, eu fui relevando. Ainda não virei fã de musical, mas pelo menos não me senti querendo fugir da sala, o que já é uma vitória.

Agora, preciso dizer, a parte dos anões cantando foi sensacional. A cantoria clássica foi um show à parte. Mesmo com os personagens sendo feitos em CGI, ficou visualmente incrível, um dos momentos mais legais do filme. Dá até pra dizer que foi ali que o filme me pegou de vez. Confesso, cantei junto. "Eu vou, eu vou...pra casa agora eu vou..."

A história segue a linha da versão clássica da Disney e talvez por isso eu tenha gostado tanto. Tá tudo ali, a Branca de Neve ingênua, o espelho mágico, a Rainha Má se transformando em velhinha pra entregar a maçã envenenada. Não tentaram reinventar demais, e isso, pra mim, foi um ponto positivo. Gosto das histórias clássicas e esse remake respeita isso.

Dá tranquilamente pra colocar as crianças pra assistir. É um filme bonito, divertido e fácil de acompanhar. A atriz que faz a Branca de Neve, olha, não é lá muito bonita não, mas a verdade é que o carisma dela vai crescendo com o tempo. No fim das contas, já nem achei ela tão feia assim. E colocar a Gal Gadot como Rainha Má... caramba! Apesar de achar que o Espelho Magico era um tremendo mentiroso e na verdade queria era ver o circo pegar fogo, ele mesmo se explicou no final. A beleza interna que seria importante, por isso Branca de Neve era mais bonita que a Mulher Maravilha, quer dizer, que a Rainha Má. É serio, tá lá no filme.

No geral, gostei bastante do filme, mesmo com todos os meus bloqueios com musicais. Tem cara de Disney, tem coração de conto de fadas e é uma boa pedida pra quem gosta dessas releituras nostálgicas com um toque moderno.

Ah, vale citar rapidinho, rolou uma polêmica nos bastidores por conta da substituição dos anões reais por personagens em CGI. Tudo isso por conta de declarações e críticas sobre estereótipos. Mas honestamente, não atrapalha em nada a experiência. Visualmente ficou bonito e segue funcionando bem na história.

Branca de Neve está disponível no app Disney Plus.
Até breve.

terça-feira, junho 24, 2025

Adolescencia - Serie Netflix


Sabe aquela sensação de quando você espera muito de uma série e ela simplesmente não entrega? Foi exatamente isso que senti assistindo Adolescência, nova minissérie da Netflix. Com apenas quatro episódios, a série parecia promissora, especialmente com aquele formato ousado de plano sequência contínuo que gera uma tensão constante. Visualmente, é bem diferente do que a gente costuma ver por aí. Mas, infelizmente, a forma não conseguiu entregar o conteúdo.

A trama gira em torno de um garoto de 13 anos acusado de matar uma colega de escola. Assunto muito pesado. Pois é, só que em vez de explorar a fundo a motivação do crime ou as consequências disso tudo, a série opta por mergulhar no drama da família. O foco vira o sofrimento dos pais, os dilemas da psicóloga, os olhares perdidos dos adultos. E o crime fica em segundo plano.

A tal motivação do garoto é sugerida como sendo bullying virtual, aqueles códigos secretos que só adolescentes entendem nas redes sociais, no caso citado, INSTAGRAM. Mas a série não mostra quase nada disso. Só fala. E fala. E fala. Um dos episódios inteiros, por exemplo, é uma conversa longa entre o adolescente e a psicóloga. Clima tenso, tentativas de criar um suspense psicológico, mas no fim, buscou demonstrar que o garoto tinha problemas de comportamento e psicopatia, mesmo com 13 anos. Foi importante para o contexto, sim, mas foi bem cansativo de assistir. O garoto nega o crime do início ao fim, mesmo com um suposto vídeo mostrando o ato. E a gente, como espectador, fica no vácuo. Faltou coragem de aprofundar, de mostrar consequências reais, de ir além do discurso.

Adolescência tenta ser séria, mas escorrega no superficial. É um tema urgente, a negligência dos pais diante do universo digital dos filhos, a masculinidade tóxica que já se manifesta entre adolescentes, a violência silenciosa que cresce nas sombras das redes, mas tudo isso é tocado com tanta suavidade que parece até medo de incomodar.

No fim, fica aquela frustração de quem queria saber mais sobre o caso, refletir, ser provocado e só encontrou estética. Uma pena. Porque o formato tinha tudo para ser revolucionário. Faltou só o essencial: conteúdo. Muitos críticos elogiando, mas sinceramente, não gostei, fiquei com a sensação que perdi meu tempo assistindo. Um elogio, os atores são bons. O adolescente e o pai dele dão um show de interpretação.

A serie está disponível no streaming Netflix

segunda-feira, junho 23, 2025

DNA do Crime - Serie Netflix


Tem séries que chegam sem muito alarde e quando a gente vê, já está envolvido até o pescoço. Foi o que aconteceu com DNA do Crime, produção brasileira da Netflix que colocou ação policial, investigação forense e drama humano no mesmo pacote e entregou tudo com uma força que raramente se vê por aqui.

Lançada em novembro de 2023, a série já começou grande: baseada em fatos reais, mais especificamente no assalto cinematográfico à sede da Prosegur em Ciudad del Este, em 2017. Mas o que realmente chamou atenção não foi só o crime, foi o modo como a investigação é contada, com foco no uso da ciência, especialmente da análise de DNA, para conectar pistas e personagens em uma rede que cruza fronteiras, histórias e traumas.

A primeira temporada nos joga direto para a Tríplice Fronteira. De um lado, um assalto coordenado e brutal; do outro, uma força-tarefa da Polícia Federal tentando montar o quebra-cabeça. No centro dessa história estão Benício, um agente atormentado pela perda do irmão, e Suellen, policial determinada e recém-mãe, equilibrando a maternidade com o peso da investigação. Ao longo dos oito episódios, a série constrói com precisão o rastro deixado pela chamada “Quadrilha Fantasma”, uma organização criminosa que se especializou em crimes de fronteira. Cada fio de cabelo, cada gota de sangue, cada pegada se torna peça-chave. E é aí que entra o diferencial: o uso do DNA como principal arma de investigação, elevando o realismo da trama e nos lembrando que a tecnologia já faz parte da luta contra o crime.

A direção de Heitor Dhalia entrega cenas tensas, tiroteios bem coreografados e uma ambientação que explora o Brasil profundo, longe do eixo Rio-São Paulo. Não há heróis limpinhos. Os agentes erram, se frustram, sofrem, mas não recuam. E talvez por isso a série tenha encontrado tanta conexão com o público.

A segunda temporada, lançada em junho de 2025, começa exatamente onde a anterior parou. Isaac, o novo grande antagonista, escapou da Polícia Federal e está longe de querer descanso. O plano agora é ainda mais ousado: atacar o Banco Central. É a escalada do crime organizado com um nível de audácia poucas vezes visto na ficção brasileira. Enquanto isso, Benício lida com perdas que abalaram seu núcleo e Suellen assume mais responsabilidades na equipe. Ela não é mais apenas a investigadora esforçada, agora é uma liderança que precisa manter a moral em uma guerra silenciosa, onde cada pista exige sacrifícios.

O roteiro amadurece, os personagens ganham mais camadas, e a tensão cresce em ritmo constante. A “Quadrilha Fantasma” se articula como uma empresa do crime, e a série faz questão de mostrar que, do outro lado, a polícia também precisa se reinventar.

DNA do Crime não só conquistou o público brasileiro, como também virou sucesso global. Em sua estreia, foi a série em língua não inglesa mais assistida na Netflix, liderando rankings em mais de 70 países. E não é difícil entender o porquê. A série combina o melhor do thriller policial com uma carga dramática forte, envolta em paisagens reais e uma sensação de urgência constante. Mas talvez o grande mérito esteja mesmo em tratar o crime como algo sistêmico, não como exceção, mas como sintoma. A série mostra a engrenagem por trás dos grandes assaltos, a relação com o tráfico, com a política, com o abandono institucional. E tudo isso sem parecer um panfleto ou algo didático. É entretenimento de alto nível, mas com inteligência.

Se você gosta de ação com propósito, de histórias baseadas em fatos, de personagens humanos e imperfeitos, DNA do Crime é uma das melhores produções brasileiras dos últimos anos. E mais: é uma série que prova que dá, sim, para fazer conteúdo nacional com ambição internacional, sem perder a identidade. Prepare-se para tiros, perseguições, flashbacks, análises genéticas e muita tensão. Mas também para se conectar com um Brasil que raramente ganha espaço nas telas. Um Brasil duro, real, que resiste e que ainda tenta fazer justiça com o que tem.

sábado, junho 21, 2025

Super Man - Christopher Reeve Story

Christopher Reeve – O Homem que Foi Muito Além do Superman


Antes de ser um herói nas telonas, Christopher Reeve era apenas mais um ator buscando seu lugar em Hollywood. Quando vestiu a capa vermelha pela primeira vez em 1978, o mundo acreditou que um homem podia voar e isso tinha nome, rosto e carisma: Reeve.

Com apenas 25 anos, ele deu vida ao Superman definitivo. Não era só pela aparência perfeita, mas pela honestidade e leveza com que interpretava o herói. Ele trouxe humanidade ao alienígena, e coragem ao jornalista tímido Clark Kent. Era o tipo de atuação que fazia você esquecer que estava vendo ficção.

O mundo conheceu Christopher Reeve voando. Mas o documentário "Super/Man: The Christopher Reeve Story", lançado na Max, mostra que seu voo mais alto aconteceu fora das telas, quando ele não podia mais se levantar da cadeira de rodas. Em 1995, um acidente a cavalo o deixou tetraplégico. A maioria das pessoas teria desistido. Reeve não. Ele transformou sua tragédia pessoal em missão. Lutou por direitos de pessoas com deficiência, financiou pesquisas para cura de lesões na medula espinhal e se tornou símbolo de esperança para milhões. Tudo isso enquanto mantinha seu olhar firme e sua voz, mesmo enfraquecida, cheia de propósito.

O filme é mais que uma biografia, é um mergulho profundo na vida de um homem que virou sinônimo de esperança. A narrativa, construída com imagens de arquivo pessoais, entrevistas emocionantes com os filhos, amigos e colegas de profissão, vai além do mito do Superman. Mostra o Reeve pai, marido, sonhador, ator brilhante e acima de tudo, guerreiro.

O documentário não romantiza a tragédia que o deixou tetraplégico após um acidente equestre em 1995. Pelo contrário, mostra o impacto brutal do trauma, físico e emocional, e a jornada dolorosa de adaptação, luta e ativismo que veio depois. Reeve poderia ter se isolado. Em vez disso, decidiu ser a voz daqueles que não tinham voz. Lutou por acessibilidade, investiu em pesquisa científica e fundou uma fundação que, até hoje, apoia pessoas com deficiência. Ele transformou sua dor em ação.

O filme toca fundo porque nos obriga a refletir justamente a questão: o que define um herói? A resposta está ali, nas entrelinhas do documentário. Um herói é aquele que não desiste. Que mesmo quando perde os movimentos, continua se movendo.

“Super/Man” não é só sobre Christopher Reeve. É sobre todos nós. Sobre cair e levantar. Sobre transformar tragédia em propósito. E sobre lembrar que às vezes, o verdadeiro superpoder é a coragem de continuar. Ele nos ensinou que ser Superman não é sobre força, visão de raio-x ou voar. É sobre nunca desistir, mesmo quando o mundo diz que você não pode mais se mover. Ele partiu em 2004, mas sua imagem continua voando alto. Um verdadeiro herói que nos lembrou que coragem não está nos músculos, mas na alma.

O documentário está disponível da MAX.

quinta-feira, junho 19, 2025

A Ultima Viagem de Demeter

Se você já leu o livro Drácula, de Bram Stoker, talvez se lembre de um trecho específico: o diário de bordo do capitão de um navio chamado Demeter. É um pedaço curto da história, mas sempre deixou um clima sombrio no ar. Pois bem, esse trecho agora virou um filme completo em 2023 e o resultado é um terror gótico que prende a atenção do espectador.

Drácula: A Última Viagem de Demeter se passa quase inteiramente dentro de um navio cargueiro que parte da Romênia em direção à Inglaterra. Com uma carga misteriosa de vários caixotes de terra, a tripulação mal sabe que, escondido ali, está ninguém menos que o Dracula.

O clima do filme é pesado, escuro, com uma sensação constante de que algo horrível vai acontecer a qualquer momento. Aos poucos, os tripulantes começam a desaparecer, e a tensão vai aumentando enquanto todos percebem que há algo muito errado naquela viagem.

O visual é muito bem feito. O navio é retratado com detalhes, os efeitos são caprichados e a criatura aparece com um visual assustador, bem diferente do vampiro elegante que a gente costuma ver. Aqui ele é mais monstruoso, quase como um demônio das profundezas.

O elenco manda bem, com destaque para Corey Hawkins, que interpreta um médico a bordo tentando entender o que está acontecendo, e Liam Cunningham como o capitão do navio. Eles ajudam a dar humanidade à história, que poderia ser só um desfile de mortes, mas acaba sendo também uma luta pela sobrevivência.

É um filme que mistura terror clássico com suspense de confinamento, como aqueles em que ninguém pode fugir e o perigo está ali dentro, com eles. Se você gosta de histórias de vampiros e de filmes com clima sombrio, vale a pena assistir. Não reinventa a roda, mas entrega exatamente o que promete: uma viagem sinistra, tensa porem com poucos sustos.


segunda-feira, junho 16, 2025

Zubeldia pediu demissao - Crespo vem ai

O São Paulo perdeu a última faísca de dignidade que tinha no banco


Não foi o time.
Não foi a tática.
Não foi a altitude de La Paz, nem o gramado do Morumbi.

Foi o velho combo brasileiro de sempre: elenco descompromissado, preparo físico de pelada de fim de ano, dirigentes omissos e uma torcida organizada que se acha diretoria. Pronto. Tá aí o que derruba técnico bom no Brasil.

Luis Zubeldía não foi apenas mais um. Ele entendeu o São Paulo, vibrava, sentia, parecia torcedor de arquibancada. Um técnico com alma, o que hoje é raríssimo.

Mas no país onde o jornalista medíocre tem mais voz que o treinador no vestiário, onde jogador faz corpo mole porque o banco virou spa e onde a torcida organizada vive de vaquinha pra ônibus e acha que manda no clube, não tem milagre.

Zubeldía errou? Claro. Mas errou tentando.
Errou porque teve que escalar o que dava, com um elenco sem perna e sem alma.
Errou porque o cara faz um jogo bom e no outro tá machucado.
Errou porque faltava tudo, menos vontade. E ainda assim, mesmo sem nada, fez o time jogar bola.

Agora, em breve, anunciam a volta do Crespo.

Sim, o mesmo Crespo que na última passagem entregou o time na UTI e precisaram chamar Rogério Ceni pra limpar o quarto e tentar salvar a vida do paciente.

Torcedor vai pagar pra ver. E depois vai chorar pedindo Zubeldía de volta. Mas aí, meu caro, ele já vai estar em outro clube. Um que dê condições, que respeite o trabalho, que tenha jogadores profissionais em campo e não gente que cansa no intervalo.

Zubeldía vai ser campeão da Libertadores muito em breve.
E a gente aqui, com técnico de grife, vendo reprise de 2005 e chorando de saudade.

Sigo apoiando, mas com raivas e revoltas no coração.


domingo, junho 15, 2025

Ainda Estou Aqui - Analise do filme

Ainda Estou Aqui - 2024
Direção: Walter Salles


Não sei se é o melhor filme que vi em 2025, mas com certeza foi o que mais mexeu comigo, do início ao fim. Um misto de raiva e choro, que teve momentos em que eu não conseguia controlar. Tive que pausar, respirar fundo, me recompor. Ainda Estou Aqui não é apenas um filme. É um soco. Um grito. Um espelho incômodo sobre uma parte sombria do Brasil que muita gente insiste em varrer pra debaixo do tapete.

Dirigido por Walter Salles, o mesmo de Central do Brasil, o longa traz uma história real que deveria ser ensinada nas escolas: a de Eunice Paiva, mulher do deputado Rubens Paiva, preso, torturado e desaparecido nos porões da ditadura militar. O roteiro é baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, e ganha vida através de atuações impressionantes.

O elenco é um peso só: Fernanda Torres, em seu papel mais maduro e visceral até hoje, interpreta Eunice com uma dor contida que sangra em cada olhar. E Fernanda Montenegro, como a Eunice mais velha, carrega a história com dignidade e força. Só por isso já valeria o ingresso. Mas o filme vai além. Vai fundo. Vai onde dói.

Não tem como assistir Ainda Estou Aqui e sair ileso. Especialmente se você tem consciência do que foi a ditadura militar no Brasil. Foram anos de censura, tortura, assassinatos, desaparecimentos. Gente arrancada de casa, gente enterrada sem nome. Não é "versão", não é "disputa ideológica", é FATO, DOCUMENTADO, PROVADO. E o filme joga isso na tela com honestidade, sem apelar, sem exagerar, mas sem aliviar.

Por isso é revoltante lembrar que, nos últimos anos, teve gente batendo panela pedindo “intervenção militar”. Gente aplaudindo tanque na rua, pedindo golpe, como se golpe fosse brincadeira, como se não tivéssemos aprendido nada, como se torturador fosse herói. O filme não cita essas cenas atuais, mas elas pesam na memória enquanto a história se desenrola. Fica impossível não lembrar dos acampamentos na frente de quartéis. Da ignorância disfarçada de patriotismo.

Ainda Estou Aqui é um filme necessário. Duro, emocionante e urgente. E sim, mereceu cada prêmio. Foi uma vitória histórica no Oscar com o prêmio de Melhor Filme Internacional, e é uma pena que Fernanda Montenegro não tenha levado o de Melhor Atriz, teria sido mais do que justo.

Mais importante que o reconhecimento da crítica, é o impacto que o filme deixa em quem assiste de peito aberto. E aqui deixo um recado direto: todo mundo que ainda defende a ditadura deveria ver esse filme. Inteiro. Em silêncio. E depois refletir. 

O problema não é ser de direita ou de esquerda. O problema é negar a história. É fechar os olhos para um período macabro, em que o Estado virou máquina de opressão. As pessoas precisam ler mais, estudar mais e querer entender o que foi aquilo. Porque enquanto a ignorância continuar vencendo a memória, vamos repetir os mesmos erros.

E é por isso que esse filme me desmontou. Porque ele mostra, sem floreio, o que acontece quando a verdade é enterrada. E o que pode nascer quando alguém decide desenterrá-la, mesmo que doa.


sábado, junho 14, 2025

Nosso Sonho - Filme

Nosso Sonho
Uma Historia do Claudinho e Buchecha - 2023

A celebração de uma amizade, de uma geração e da força do funk melody

Dirigido por Eduardo Albergaria, Nosso Sonho é mais do que uma cinebiografia sobre Claudinho & Buchecha. É um retrato afetuoso da amizade entre dois meninos da periferia que usaram a música para sonhar alto e romper as barreiras sociais impostas a eles. É também um documento cultural sobre uma época e um estilo musical que marcaram uma geração inteira. Nostalgia pura.

O filme acompanha a trajetória da dupla desde a infância em São Gonçalo (RJ), mostrando os desafios da vida nas comunidades, a ausência paterna, os sonhos improváveis e o encontro com a música como ponto de virada. A narrativa é construída de forma cronológica, mas alterna com momentos musicais e de introspecção emocional que ajudam a dimensionar o impacto da dupla na música brasileira e na vida das pessoas que os acompanhavam.

Juan Paiva (Claudinho) e Lucas Penteado (Buchecha) entregam atuações sinceras e comprometidas, capturando a leveza, a cumplicidade e a dor de um vínculo interrompido precocemente. A escolha dos atores foi um acerto, especialmente por representarem com verdade a juventude negra, suburbana e criativa do Brasil. A química entre eles é um dos pontos altos do filme.

A direção de Albergaria é cuidadosa e respeitosa. Não se trata de um filme sensacionalista ou carregado de melodrama. Pelo contrário: há uma busca clara por mostrar os bastidores com humanidade, sem deixar de lado o brilho da carreira da dupla. O uso das músicas como “Nosso Sonho”, “Quero te Encontrar” e “Fico Assim Sem Você”, serve não apenas como trilha sonora, mas como parte da narrativa emocional. Mais um ponto para nostalgia.

O design de produção, figurino e ambientação trazem de volta os anos 90 e início dos 2000 com autenticidade. Mas mais do que nostalgia pela estética, o filme desperta saudade de um tempo em que a música popular era dominada por mensagens de amor, alegria e superação, mesmo quando vindas de contextos duros. (critica ao funks atuais)

Nosso Sonho também carrega um papel importante no cinema nacional: o de valorizar figuras populares, muitas vezes ignoradas pelas grandes produções. Claudinho & Buchecha foram fundamentais na construção de uma identidade musical brasileira, com letras que falavam ao coração das periferias e ritmos que embalavam bailes, rádios e programas de TV. Contar essa história é reconhecer que o funk melody foi e continua sendo parte viva da nossa cultura.

Mais do que uma biografia, Nosso Sonho é uma homenagem à memória, à amizade e ao poder transformador da música. Um filme necessário, que emociona sem exageros e que acerta ao trazer para as telas uma história que sempre pertenceu ao povo.

É bom, simples e sincero, mesmo sabendo sobre o final triste do filme. 


quinta-feira, junho 12, 2025

O Aprendiz

Com Donald Trump novamente na presidência dos Estados Unidos, O Aprendiz se torna um filme ainda mais relevante. Dirigido por Ali Abbasi, o longa não é apenas uma cinebiografia, mas um mergulho na construção da figura pública de Trump. Mostra como ele se tornou o empresário agressivo e estrategista que o mundo conhece hoje, explorando os anos decisivos de sua vida entre as décadas de 1970 e 1980. É um retrato de um homem que soube jogar o jogo do poder desde cedo e que nunca mais parou.

O filme acompanha a relação entre o jovem Trump, interpretado por Sebastian Stan, e seu mentor Roy Cohn, vivido por Jeremy Strong. Cohn, um advogado famoso por sua influência nos bastidores da política e dos negócios, ensina Trump como manipular o sistema para obter vantagem. Ele o orienta a ignorar regras, usar a mídia ao seu favor e nunca admitir derrota. A história se desenrola dentro do competitivo mercado imobiliário de Nova York, onde Trump aprende que sua imagem pública pode ser tão valiosa quanto qualquer arranha-céu.

Diferente de muitas cinebiografias que tentam humanizar ou demonizar suas figuras centrais, O Aprendiz apresenta os fatos sem floreios. O filme não tenta convencer o espectador a gostar ou odiar Trump, apenas mostra como ele se moldou para se tornar um dos homens mais poderosos do mundo. A atuação de Sebastian Stan surpreende, capturando os maneirismos e a postura do ex-presidente sem exageros. Jeremy Strong também entrega um desempenho de peso, interpretando Cohn como um verdadeiro mestre da manipulação, um homem cuja influência sobre Trump durou muito além dos anos 80.

Visualmente, o filme aposta em um retrato cru e realista da Nova York da época, com um tom sombrio que reflete o clima de negociações implacáveis e alianças duvidosas. A trilha sonora discreta reforça a tensão constante, enquanto os diálogos carregados de cinismo deixam claro que, no mundo dos negócios e da política, o mais esperto sempre vence.

Assistir a O Aprendiz hoje é quase obrigatório para quem quer entender melhor o cenário político atual. Trump voltou ao poder, e muitas das táticas que ele aprendeu décadas atrás ainda são visíveis em suas decisões. O filme não é apenas sobre ele, mas sobre como se constrói e se mantém o poder, sobre como alianças são feitas e desfeitas nos bastidores e sobre como, muitas vezes, a verdade importa menos do que a percepção pública.

Mais do que um drama biográfico, O Aprendiz é um lembrete de que o passado nunca fica realmente para trás. Ele nos ajuda a entender como chegamos até aqui e nos faz questionar para onde estamos indo. Se o que vemos na tela é um retrato fiel ou não, cabe a cada espectador decidir, mas uma coisa é certa: a história de Donald Trump ainda está longe de acabar.

A recepção do público foi mista. Embora a crítica especializada tenha elogiado o desempenho dos atores e a construção do enredo, O Aprendiz não obteve sucesso significativo nas bilheteiras. Nos Estados Unidos, o filme arrecadou apenas US$ 1,6 milhão em seu final de semana de estreia, o que representou cerca de 10% de seu custo de produção de US$ 16 milhões. No Brasil, a bilheteira também foi aquém das expectativas, com menos de 20 mil espectadores nas primeiras duas semanas de exibição.

Apesar disso, o filme obteve boas críticas em sites especializados, com uma média de 79% no Rotten Tomatoes e uma avaliação de 84% do público. No AdoroCinema, recebeu 3,5 de 5 estrelas, com destaque para a transformação de Trump sob a orientação de Roy Cohn. Contudo, a produção também foi marcada por controvérsias, principalmente por parte da equipe de Trump, que tentou barrar a exibição do filme, chamando-o de "ficção pura" e "lixo". Essas tentativas de censura dificultaram a distribuição do filme nos Estados Unidos, limitando-o a um número reduzido de salas de cinema.

No geral, O Aprendiz teve uma recepção ambígua, com o público dividido entre admiradores e críticos de Trump. A controvérsia gerada pela produção e o desempenho abaixo das expectativas nas bilheteiras indicam que o filme teve dificuldades para atingir uma audiência maior, apesar de sua relevância no contexto político atual.

Até breve.

terça-feira, junho 10, 2025

Mickey 17

Sou fã de filmes Sci-Fi, com naves, tecnologia e aliens. Quando anunciaram o tal Mickey 17 com Robert Parkinson, digo, Pattinson, fiquei intrigado e curioso. O título não entregava muita coisa, mas o nome do diretor por trás da obra dizia muita coisa: Bong Joon Ho, o diretor que transformou uma história sobre classes sociais e porões escondidos em um Oscar (Parasita)

Confesso que fui com expectativas moderadas, mas aquele tipo de expectativa que fica cutucando: “e se for genial e eu não estiver preparado?”. A resposta é: fui surpreendido e ligeiramente perturbado. E isso, pra um bom Sci-Fi, é elogio.

A premissa já é daquelas que muda totalmente sua perspectiva da vida: Mickey é um "descartável", um funcionário clonável enviado para fazer trabalhos perigosos em um planeta inóspito chamado Niflheim. Ele morre, é clonado, (impresso, palavras ditas no próprio filme) volta com as memórias intactas e repete o ciclo. Até que um dia… o Mickey 17 volta vivo de uma missão e encontra o Mickey 18 já funcionando. Duas cópias e uma baita crise existencial.

A trama, que parece coisa de Rick and Morty com crises existenciais malucas, vai muito além da confusão dos clones. O diretor usa o caos para refletir sobre o valor da vida, o papel da consciência e o quanto vale sua existência quando você é substituível até no café da manhã.

Robert Pattinson entrega um protagonista que não sabe se ri, chora ou se auto-deleta. E a vibe do filme é essa mesma: ora filosófica, ora debochada, ora tensa. O visual é bonito, mas não no sentido tradicional de “sci-fi lustroso e limpo”. Tem sujeira, tem desconforto, tem aquele climão distópico em que tudo parece estar prestes a dar errado e realmente dá tudo errado.

O elenco ajuda a segurar essa viagem espacial insana: Toni Collette como uma comandante com cara de quem já mandou meia dúzia de Mickeys pro espaço sem piscar, Mark Ruffalo no modo “patrão opressor do futuro” e Naomi Ackie trazendo um respiro emocional. De verdade, conhecia so o Robert e o Mark Ruffalo. Inclusive, fiquei com muito ódio do personagem do Mark, daqueles que dá vontade bater na cara. Se um ator te faz ficar com raiva do personagem que ele representa, devo aceitar que ele é um baita ator.

Agora, vamos ser sinceros: Mickey 17 não é pra todo mundo. Tem ritmo mais lento que certos blockbusters pipocudos e exige atenção. Mas se você curte um sci-fi mais cabeça, com questionamentos morais, existencialismo e um clone batendo boca com sua versão mais nova, vai fundo. Ah, e se você assistiu só pelo Pattinson e esperava vampiro brilhando no espaço, sinto dizer que aqui o brilho é da reflexão (e do sarcasmo cósmico).

Mickey 17 já está disponível na HBO Max.


domingo, junho 08, 2025

A Dona da Bola - Netflix

Tá ai uma serie que me surpreendeu. Eu gosto muito de filmes e series que mostram a gestão de times das ligas norte-americanas. Filmes como Draft e Um Domingo Qualquer estão entre os meus preferidos. Comecei a assistir a serie sem pretensão, simplesmente por conta do tema (cof cof, Kate Hudson) e admito que cochilei nos dois primeiros episódios. Estava monótono, chato e difícil de assistir. Mas continuei e não me arrependi. Cheguei ao ultimo episodio querendo mais, uma pena que acabou pois são episódios de 30 minutos e dez episódios passa bem rápido quando a serie deslancha.

Mas o que é a serie? É uma comédia lançada pela Netflix em 27 de fevereiro de 2025, estrelada por Kate Hudson no papel de Isla Gordon. A trama acompanha Isla, que, após anos sendo subestimada, é inesperadamente nomeada presidente do time de basquete Los Angeles Waves, pertencente à sua família. Ela enfrenta resistência tanto dentro da família quanto no competitivo mundo dos esportes, buscando provar que é a escolha certa para o cargo e tentando levar o time para os playoffs da liga.

Mas a série não é só sobre bola laranja e tabela. É sobre poder. Sobre mulheres invadindo o playground masculino dos esportes de alto nível. Sobre as rasteiras da vida corporativa. E, claro, sobre o bom e velho nepotismo, que dessa vez até tem seu charme. A serie tem humor, tem crítica, e tem Kate Hudson dando show

A primeira temporada possui 10 episódios e, devido à boa recepção do público, a Netflix já confirmou a renovação para a segunda temporada

sexta-feira, junho 06, 2025

A Logica da Troca

Trocas, poder e obrigações: o que Mauss e Malinowski diriam do nosso mundo?

Você já parou pra pensar que quase nada na vida é realmente “de graça”? Mesmo os gestos mais simples, um favor, um presente, um convite carregam consigo uma carga invisível de expectativa, de obrigação. E essa lógica da troca, que a gente costuma achar que ficou no passado tribal, continua vivíssima hoje. Talvez disfarçada, mais sutil, mas tão poderosa quanto sempre foi.

Na antropologia, dois nomes gigantes ajudaram a entender esse fenômeno: Marcel Mauss e Bronisław Malinowski. E embora ambos tenham estudado trocas em sociedades ditas “primitivas”, o que eles descobriram serve como uma luva pra entender a sociedade atual, essa em que trocamos likes por validação, favores por influência, presentes por posições.

Mauss, em seu clássico Ensaio sobre a Dádiva, mostrou que dar, receber e retribuir não são gestos espontâneos. Eles criam vínculos, amarram pessoas, geram obrigações. Quando alguém te dá algo, você se sente em dívida. E essa dívida não é só econômica ela é moral e simbólica. Recusar um presente, por exemplo, é como recusar um vínculo e não retribuir pode ser lido como desrespeito ou fraqueza. É como se estivéssemos presos num eterno ciclo de trocas que mantém a sociedade coesa ou controlada.

Malinowski, por outro lado, analisando o sistema Kula nas Ilhas Trobriand, observou que essas trocas também têm uma função: manter a ordem, reforçar status, organizar a vida social. A troca, nesse caso, não é sobre o objeto em si, mas sobre o que ele representa. Um colar passado de mão em mão não é só um adorno é um sinal de prestígio, de pertencimento, de hierarquia. Trocar é, portanto, uma maneira de manter todo mundo “no seu lugar”.

Agora, transporte isso pro nosso tempo. Quando uma marca manda um mimo pra um influenciador, está oferecendo mais do que um produto está oferecendo um pacto silencioso. Quando alguém te indica pra uma vaga, ou te ajuda num projeto, essa pessoa está, conscientemente ou não, gerando uma expectativa de retorno. Quando políticos recebem apoio de empresários ou grupos religiosos, a dívida não é só moral é política, é estratégica.

Até mesmo o marketing moderno bebe da fonte de Mauss e Malinowski. Programas de fidelidade funcionam como trocas ritualizadas: o cliente “ganha” algo, mas na verdade está sendo amarrado a um ciclo de obrigações. A marca dá, o consumidor retribui com lealdade, e assim o jogo segue.

Nas relações pessoais não é diferente. Amizades, parcerias, redes de contato, tudo isso opera, em algum nível, dentro da lógica da troca. Às vezes explícita, às vezes velada. Você ajuda alguém hoje, sabendo que pode precisar dela amanhã. Você convida alguém pra um evento, esperando ser lembrado no próximo. Você comenta e curte o post do amigo, esperando o mesmo em troca. A vida cotidiana virou um tabuleiro de reciprocidades não ditas.

No fundo, tanto Mauss quanto Malinowski estavam falando sobre poder. Sobre como ele circula, como ele se disfarça de gentileza, como ele se esconde atrás de um presente embrulhado com laço bonito. Trocar é um ato social, mas também é um ato político. É um jogo de controle, de pertencimento, de hierarquia.

E talvez, no mundo de hoje, o grande desafio seja justamente esse, perceber quando estamos trocando por afeto e quando estamos apenas sendo capturados por uma rede invisível de obrigações disfarçadas de gentileza.


quarta-feira, junho 04, 2025

O Astronauta


O Astronauta, estrelado por Adam Sandler, é aquele tipo de filme que promete uma jornada cósmica, mas entrega uma viagem arrastada pelo vazio não só do espaço, mas da própria narrativa. A premissa é curiosa: um astronauta solitário em missão perto de Júpiter começa a conversar com uma aranha alienígena gigante, que mais parece um terapeuta do que uma ameaça intergaláctica. A ideia poderia render algo filosófico, tocante, talvez até surpreendente... mas o resultado final é, honestamente, chato.

Adam Sandler se esforça no papel dramático, e até consegue mostrar uma dor interna legítima, mas o roteiro se arrasta num mar de diálogos introspectivos que soam profundos no papel, mas na tela viram monólogos existenciais repetitivos. O ritmo é tão lento que parece que o tempo no espaço parou de propósito só pra prolongar o tédio.

Visualmente o filme tenta ser poético, com planos contemplativos e silêncios eternos, mas tudo isso acaba servindo mais como anestésico do que provocação emocional. A aranha alienígena é simpática, sim, mas nem ela consegue salvar a viagem do completo marasmo. No fim, O Astronauta é o tipo de filme que te faz refletir... principalmente sobre por que você ainda não apertou o botão de "voltar ao menu da Netflix".

É bonito, é sensível, mas também é cansativo e em muitos momentos, simplesmente insuportável.


segunda-feira, junho 02, 2025

Coerencia

Coerência
James Ward Byrkit

Tudo começa com um jantar entre amigos. Risadas, conversas sobre o passado, discussões sobre astrologia, relacionamentos mal resolvidos e um cometa cruzando o céu. É uma daquelas noites que parecem normais, até que alguma coisa desencaixa. As luzes piscam. Os celulares quebram. A comunicação com o mundo lá fora se torna impossível. E o que era apenas uma reunião de velhos conhecidos se transforma num jogo mental onde nada nem ninguém é exatamente o que parece ser.

Coerência, filme independente lançado em 2013, dirigido por James Ward Byrkit, entrega uma experiência que incomoda de maneira inteligente. Sem precisar de efeitos especiais, monstros ou trilhas sonoras grandiosas, ele se apoia na tensão dos diálogos e na força de um roteiro engenhoso. O cenário é único, a casa onde tudo acontece. E a ameaça também: ela está do lado de fora, do lado de dentro, no reflexo do espelho e mais assustador ainda, nos próprios personagens.

A grande sacada é a abordagem do multiverso. Nada de explicações científicas detalhadas, fórmulas, gráficos ou viagens no tempo. Aqui, a ideia de realidades paralelas surge como um ruído, uma rachadura invisível que vai se ampliando até engolir a lógica das coisas. Aos poucos, os personagens percebem que não estão mais sozinhos. Outras versões de si mesmos estão ali por perto, vindas de realidades ligeiramente diferentes, carregando segredos, intenções e arrependimentos. E é aí que o filme atinge seu ponto mais alto: quando obriga cada um a encarar a pior versão de si. Ou talvez a mais honesta.

O roteiro foi feito com base em situações improvisadas. Os atores não sabiam tudo o que iria acontecer em cada cena. Isso dá um ar de verdade ao caos. As reações são cruas, confusas, como seriam se aquilo acontecesse de verdade. Porque, na prática, Coerência não fala só sobre buracos na realidade. Fala sobre o que as pessoas escondem, sobre decisões mal tomadas, sobre como a vida que levamos é só uma entre muitas possíveis, e como talvez estejamos mais próximos da nossa própria substituição do que gostaríamos de imaginar. Detalhe interessante: O filme inteiro foi gravado na casa do diretor, em uma semana.

É um filme que termina e continua ecoando. Te faz pensar em escolhas, em identidade, em como uma pequena mudança pode criar uma avalanche de consequências. A certa altura, surge a dúvida inevitável: e se aquela pessoa que saiu para pegar gelo não for a mesma que voltou?

Coerência é claustrofóbico, filosófico, silenciosamente perturbador. Uma daquelas produções que não subestimam a inteligência de quem assiste. Ao contrário, desafia e provoca. E deixa um gosto amargo de dúvida no final. Vale cada minuto. Especialmente se você gosta de sair do filme com a cabeça fervendo. 

Coerência está disponível no Amazon Prime.

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