Ainda Estou Aqui - 2024
Direção: Walter Salles
Não sei se é o melhor filme que vi em 2025, mas com certeza foi o que mais mexeu comigo, do início ao fim. Um misto de raiva e choro, que teve momentos em que eu não conseguia controlar. Tive que pausar, respirar fundo, me recompor. Ainda Estou Aqui não é apenas um filme. É um soco. Um grito. Um espelho incômodo sobre uma parte sombria do Brasil que muita gente insiste em varrer pra debaixo do tapete.
Dirigido por Walter Salles, o mesmo de Central do Brasil, o longa traz uma história real que deveria ser ensinada nas escolas: a de Eunice Paiva, mulher do deputado Rubens Paiva, preso, torturado e desaparecido nos porões da ditadura militar. O roteiro é baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, e ganha vida através de atuações impressionantes.
O elenco é um peso só: Fernanda Torres, em seu papel mais maduro e visceral até hoje, interpreta Eunice com uma dor contida que sangra em cada olhar. E Fernanda Montenegro, como a Eunice mais velha, carrega a história com dignidade e força. Só por isso já valeria o ingresso. Mas o filme vai além. Vai fundo. Vai onde dói.
Não tem como assistir Ainda Estou Aqui e sair ileso. Especialmente se você tem consciência do que foi a ditadura militar no Brasil. Foram anos de censura, tortura, assassinatos, desaparecimentos. Gente arrancada de casa, gente enterrada sem nome. Não é "versão", não é "disputa ideológica", é FATO, DOCUMENTADO, PROVADO. E o filme joga isso na tela com honestidade, sem apelar, sem exagerar, mas sem aliviar.
Por isso é revoltante lembrar que, nos últimos anos, teve gente batendo panela pedindo “intervenção militar”. Gente aplaudindo tanque na rua, pedindo golpe, como se golpe fosse brincadeira, como se não tivéssemos aprendido nada, como se torturador fosse herói. O filme não cita essas cenas atuais, mas elas pesam na memória enquanto a história se desenrola. Fica impossível não lembrar dos acampamentos na frente de quartéis. Da ignorância disfarçada de patriotismo.
Ainda Estou Aqui é um filme necessário. Duro, emocionante e urgente. E sim, mereceu cada prêmio. Foi uma vitória histórica no Oscar com o prêmio de Melhor Filme Internacional, e é uma pena que Fernanda Montenegro não tenha levado o de Melhor Atriz, teria sido mais do que justo.
Mais importante que o reconhecimento da crítica, é o impacto que o filme deixa em quem assiste de peito aberto. E aqui deixo um recado direto: todo mundo que ainda defende a ditadura deveria ver esse filme. Inteiro. Em silêncio. E depois refletir.
O problema não é ser de direita ou de esquerda. O problema é negar a história. É fechar os olhos para um período macabro, em que o Estado virou máquina de opressão. As pessoas precisam ler mais, estudar mais e querer entender o que foi aquilo. Porque enquanto a ignorância continuar vencendo a memória, vamos repetir os mesmos erros.
E é por isso que esse filme me desmontou. Porque ele mostra, sem floreio, o que acontece quando a verdade é enterrada. E o que pode nascer quando alguém decide desenterrá-la, mesmo que doa.
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