segunda-feira, junho 23, 2025

DNA do Crime - Serie Netflix


Tem séries que chegam sem muito alarde e quando a gente vê, já está envolvido até o pescoço. Foi o que aconteceu com DNA do Crime, produção brasileira da Netflix que colocou ação policial, investigação forense e drama humano no mesmo pacote e entregou tudo com uma força que raramente se vê por aqui.

Lançada em novembro de 2023, a série já começou grande: baseada em fatos reais, mais especificamente no assalto cinematográfico à sede da Prosegur em Ciudad del Este, em 2017. Mas o que realmente chamou atenção não foi só o crime, foi o modo como a investigação é contada, com foco no uso da ciência, especialmente da análise de DNA, para conectar pistas e personagens em uma rede que cruza fronteiras, histórias e traumas.

A primeira temporada nos joga direto para a Tríplice Fronteira. De um lado, um assalto coordenado e brutal; do outro, uma força-tarefa da Polícia Federal tentando montar o quebra-cabeça. No centro dessa história estão Benício, um agente atormentado pela perda do irmão, e Suellen, policial determinada e recém-mãe, equilibrando a maternidade com o peso da investigação. Ao longo dos oito episódios, a série constrói com precisão o rastro deixado pela chamada “Quadrilha Fantasma”, uma organização criminosa que se especializou em crimes de fronteira. Cada fio de cabelo, cada gota de sangue, cada pegada se torna peça-chave. E é aí que entra o diferencial: o uso do DNA como principal arma de investigação, elevando o realismo da trama e nos lembrando que a tecnologia já faz parte da luta contra o crime.

A direção de Heitor Dhalia entrega cenas tensas, tiroteios bem coreografados e uma ambientação que explora o Brasil profundo, longe do eixo Rio-São Paulo. Não há heróis limpinhos. Os agentes erram, se frustram, sofrem, mas não recuam. E talvez por isso a série tenha encontrado tanta conexão com o público.

A segunda temporada, lançada em junho de 2025, começa exatamente onde a anterior parou. Isaac, o novo grande antagonista, escapou da Polícia Federal e está longe de querer descanso. O plano agora é ainda mais ousado: atacar o Banco Central. É a escalada do crime organizado com um nível de audácia poucas vezes visto na ficção brasileira. Enquanto isso, Benício lida com perdas que abalaram seu núcleo e Suellen assume mais responsabilidades na equipe. Ela não é mais apenas a investigadora esforçada, agora é uma liderança que precisa manter a moral em uma guerra silenciosa, onde cada pista exige sacrifícios.

O roteiro amadurece, os personagens ganham mais camadas, e a tensão cresce em ritmo constante. A “Quadrilha Fantasma” se articula como uma empresa do crime, e a série faz questão de mostrar que, do outro lado, a polícia também precisa se reinventar.

DNA do Crime não só conquistou o público brasileiro, como também virou sucesso global. Em sua estreia, foi a série em língua não inglesa mais assistida na Netflix, liderando rankings em mais de 70 países. E não é difícil entender o porquê. A série combina o melhor do thriller policial com uma carga dramática forte, envolta em paisagens reais e uma sensação de urgência constante. Mas talvez o grande mérito esteja mesmo em tratar o crime como algo sistêmico, não como exceção, mas como sintoma. A série mostra a engrenagem por trás dos grandes assaltos, a relação com o tráfico, com a política, com o abandono institucional. E tudo isso sem parecer um panfleto ou algo didático. É entretenimento de alto nível, mas com inteligência.

Se você gosta de ação com propósito, de histórias baseadas em fatos, de personagens humanos e imperfeitos, DNA do Crime é uma das melhores produções brasileiras dos últimos anos. E mais: é uma série que prova que dá, sim, para fazer conteúdo nacional com ambição internacional, sem perder a identidade. Prepare-se para tiros, perseguições, flashbacks, análises genéticas e muita tensão. Mas também para se conectar com um Brasil que raramente ganha espaço nas telas. Um Brasil duro, real, que resiste e que ainda tenta fazer justiça com o que tem.

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