quinta-feira, maio 15, 2025

Quando a Ignorância Vira Orgulho: o Brasil sob o Bolsonarismo

Esses dias me deparei com duas falas que resumem perfeitamente o buraco onde parte da nossa sociedade caiu. Não são apenas frases soltas, são espelhos sujos que refletem uma época em que o pior das pessoas foi trazido à tona com orgulho. 

A primeira dizia: 

Vídeos do Nicolas informam muito mais que qualquer narrativa mentirosa de esquerda, Nicolas mata a cobra e mostra o pau, vocês roubam a cobra.” 

A segunda, ainda mais absurda, afirmava: 

Nunca leia livros. Eles vão te doutrinar. Informação é coisa de esquerdista. Você se educa com grupos do WhatsApp e vídeos do Nicolas.” 


As duas circulam nas redes como verdades absolutas, consumidas por quem já perdeu o senso crítico, e defendem com unhas e dentes uma ideologia que não tem nada de ideológica: é puro fanatismo disfarçado de opinião.

Essas falas representam a essência do bolsonarismo. Um movimento que não é apenas político, mas cultural, psicológico e até espiritual no pior dos sentidos. Elas mostram como se construiu no Brasil um culto à personalidade, onde o que importa não é o argumento, mas quem grita mais alto. O “Nicolas” (Nikolas Ferreira, deputado federal conhecido por discursos inflamados e desinformação) virou um símbolo de uma verdade fabricada, que não precisa de comprovação, apenas de aplauso. Não importa o que ele diz, importa que ele diga com firmeza, com aquela entonação de quem está “revelando os bastidores do sistema”. Isso substitui o pensamento. Isso elimina o debate. Isso autoriza o ódio.

A metáfora grotesca do “matar a cobra e mostrar o pau” não é só vulgar, ela é a encarnação do bolsonarismo como projeto de brutalidade. A verdade, para eles, não precisa ser elegante, nem precisa ser verdade. Basta ser agressiva. E qualquer um que se oponha é automaticamente um inimigo: frouxo, mentiroso, ladrão. A oposição não apenas discorda, ela “rouba a cobra”. O outro não é adversário político, é traidor da pátria. Essa mentalidade não nasceu do nada. Foi plantada e regada com anos de retórica violenta, teorias da conspiração e a santificação da ignorância.

E por falar em ignorância, a segunda fala é ainda mais reveladora. “Nunca leia livros.” Essa frase, se lida fora de contexto, pareceria uma paródia. Mas não é. Ela é real. Ela é o grito de guerra de uma geração que aprendeu a odiar o saber. Ela reflete um Brasil no qual o conhecimento virou ameaça, os livros são vistos como armadilhas e “ser educado” é coisa de comunista. Isso não é acaso. É um projeto. Um projeto de manter as pessoas presas numa bolha de WhatsApp, onde a realidade é moldada por memes, vídeos editados e palavras de ordem. “Estudar” virou sinônimo de “doutrinação” e “se informar” virou motivo de desconfiança.

O bolsonarismo não inventou o racismo, a misoginia ou a homofobia. Mas ele fez algo pior: deu permissão para que tudo isso voltasse a ser dito em voz alta, com orgulho. Gente que antes escondia o preconceito, agora exibe como bandeira. O discurso de “bandido bom é bandido morto” virou política pública. A chacina virou mérito. A morte virou solução. Tudo em nome de uma moral seletiva e distorcida que serve apenas para justificar a violência. O resultado está aí: ataques a professores, a jornalistas, a artistas, a cientistas. O desprezo pelas universidades. O ódio à cultura. O medo da arte. O riso diante da dor alheia. Isso não é conservadorismo. Isso é regressão com orgulho.

E o mais perigoso de tudo é que essa lógica não depende de argumentos. Ela depende de adesão. Não importa se é verdade, importa se confirma o que eu quero acreditar. E se alguém ousa questionar, vira inimigo. O bolsonarismo não debate, ele cancela, lincha, silencia. E nisso, transformou o cotidiano das pessoas. Criou brigas em famílias, destruiu amizades, fez do ódio um hábito. Tornou normal desejar o mal ao outro só por pensar diferente.

É por isso que é tão urgente combater esse tipo de pensamento, não com mais grito, mas com lucidez. Porque o Brasil precisa, mais do que nunca, reaprender a pensar. E pra isso, a gente vai precisar voltar a fazer o que eles mais temem: ler, escutar, conversar e refletir.

Finalizo com esse outro post, que traz uma verdade dura pra nossa sociedade


Não sei até quando essa loucura vai durar ou se um dia vai acabar. Sinceramente, não acredito que o Brasil vá "se curar", não com tanto roubo, crime, fraude e corrupção normalizados em todos os níveis. Não é só na política, virou rotina, pois passar a perna no outro virou cultura. O jeitinho brasileiro, que já foi visto como criatividade diante das dificuldades, hoje é sinônimo de trambique, de vantagem em cima do próximo. E aí fica difícil negar: o problema estrutural do Brasil... são os próprios brasileiros.

Nos vemos por ai.
Até breve.


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