Esses dias me deparei com duas falas que resumem perfeitamente o buraco onde parte da nossa sociedade caiu. Não são apenas frases soltas, são espelhos sujos que refletem uma época em que o pior das pessoas foi trazido à tona com orgulho.
A primeira dizia:
“Vídeos do Nicolas informam muito mais que qualquer narrativa mentirosa de esquerda, Nicolas mata a cobra e mostra o pau, vocês roubam a cobra.”
A segunda, ainda mais absurda, afirmava:
“Nunca leia livros. Eles vão te doutrinar. Informação é coisa de esquerdista. Você se educa com grupos do WhatsApp e vídeos do Nicolas.”
Essas falas representam a essência do bolsonarismo. Um movimento que não é apenas político, mas cultural, psicológico e até espiritual no pior dos sentidos. Elas mostram como se construiu no Brasil um culto à personalidade, onde o que importa não é o argumento, mas quem grita mais alto. O “Nicolas” (Nikolas Ferreira, deputado federal conhecido por discursos inflamados e desinformação) virou um símbolo de uma verdade fabricada, que não precisa de comprovação, apenas de aplauso. Não importa o que ele diz, importa que ele diga com firmeza, com aquela entonação de quem está “revelando os bastidores do sistema”. Isso substitui o pensamento. Isso elimina o debate. Isso autoriza o ódio.
A metáfora grotesca do “matar a cobra e mostrar o pau” não é só vulgar, ela é a encarnação do bolsonarismo como projeto de brutalidade. A verdade, para eles, não precisa ser elegante, nem precisa ser verdade. Basta ser agressiva. E qualquer um que se oponha é automaticamente um inimigo: frouxo, mentiroso, ladrão. A oposição não apenas discorda, ela “rouba a cobra”. O outro não é adversário político, é traidor da pátria. Essa mentalidade não nasceu do nada. Foi plantada e regada com anos de retórica violenta, teorias da conspiração e a santificação da ignorância.
E o mais perigoso de tudo é que essa lógica não depende de argumentos. Ela depende de adesão. Não importa se é verdade, importa se confirma o que eu quero acreditar. E se alguém ousa questionar, vira inimigo. O bolsonarismo não debate, ele cancela, lincha, silencia. E nisso, transformou o cotidiano das pessoas. Criou brigas em famílias, destruiu amizades, fez do ódio um hábito. Tornou normal desejar o mal ao outro só por pensar diferente.
É por isso que é tão urgente combater esse tipo de pensamento, não com mais grito, mas com lucidez. Porque o Brasil precisa, mais do que nunca, reaprender a pensar. E pra isso, a gente vai precisar voltar a fazer o que eles mais temem: ler, escutar, conversar e refletir.
Finalizo com esse outro post, que traz uma verdade dura pra nossa sociedade
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