Tem algo estranho acontecendo nos discursos sobre autenticidade. A tal cultura do “seja você mesmo” que, em essência, deveria libertar, está fazendo o contrário, está aprisionando a convivência. Criamos uma geração inteira que acha bonito ser insuportável e ainda chama isso de coragem.
É tanta gente repetindo “eu sou assim mesmo” com orgulho, que o mundo virou refém de personalidades sem empatia, sem filtro, sem noção. Pessoas que confundem ser autêntico com ser grosseiro. Gente que não vê problema em magoar o outro, porque “foi só sinceridade”. E o pior, essa postura ganhou status de virtude.
A geração que cresceu ouvindo que não devia se curvar pra nada, que tinha que ser 100% verdadeira o tempo todo, esqueceu de algo essencial, ser educada, ser gentil, ser minimamente suportável. Porque sim, existe uma diferença entre ser verdadeiro e ser simplesmente... um problema.
Hoje, qualquer tentativa de limite é vista como opressão. Qualquer correção é tratada como um ataque pessoal. Qualquer “não” vira um trauma. Ninguém quer crescer. Querem apenas ser aceitos do jeito que estão mesmo que estejam mimados, emocionalmente descompensados, grosseiros e mal resolvidos.
E aí vem a verdade que ninguém gosta de ouvir: isso não é evolução. É ego. Ego travestido de autenticidade. Ego que se recusa a mudar, que não escuta ninguém, que só grita. E grita frases de autoajuda mal digeridas, como se elas pudessem justificar atitudes tóxicas.
Ser você mesmo é lindo. Mas só se esse “você” não for alguém impossível de conviver. Se o seu “eu” não sabe respeitar o espaço do outro, se não tem autocontrole, se não reconhece que precisa melhorar então não é autenticidade. É só preguiça emocional com nome bonito.
Ser autêntico não é ter passe livre pra ser sem noção. Ser verdadeiro não é sinônimo de ser estúpido. E acima de tudo, ser você mesmo não te dá o direito de ser um babaca. Se a sua verdade machuca todo mundo à sua volta, talvez esteja na hora de repensar se isso é mesmo autenticidade... ou só mais uma armadura de quem tem medo de crescer.
Ser você mesmo é maravilhoso, mas só se você for alguém que os outros aguentam conviver. Senão, é so mais uma personalidade toxica se escondendo atras de frases prontas. Ser verdadeiro não é ser estupido, ser autentico não é ser sem limites. Ser você mesmo não te da o direito de ser um problema para o mundo, um babaca egoísta que usa a palavra autentico para justificar sua falta de educação e falta de empatia com as outras pessoas.
No fim das contas, ser você mesmo é um ponto de partida, não de chegada. É onde começa o caminho da evolução, não onde ele termina. Quem usa a própria personalidade como desculpa pra não mudar, não é autêntico. É só preguiçoso demais pra crescer.
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